Primeiramente, okinawa é a maior ilha, e capital, do arquipélago de Ryūkyū, que cruza o mar da China e oriental e o Oceano Pacífico a meio caminho entre China e Japão. Essa denominação, no entanto, só ocorreu quando de sua anexação pelo Japão em 1879. Antes os navegadores Portugueses a conheciam como Ilhas Léquias, os Chineses de Liu Chiu e os Uchinachu (Habitantes da Ilha) a chamavam de Uchina, do Uchinaguchi (língua tradicional da ilha), que significa “corda que flutua no mar”. Vamos saber um poco sobre a história de Okinawa.

Assim como no Japão feudal, antigamente as ilhas eram organizadas em feudos. Os governantes destes chamavam-se Aji. Os feudos eram em pontos estratégico de defesa militar e serviam de proteção para seus senhores, aquartelamento de tropas e abrigo para a vassalagem. Estas construções ficavam em pequenas montanhas e acabavam se tornando verdadeiras vilas. Este período da história é conhecido como Sanzan. Caracteriza-se pela divisão política do terreno em três reinos: Chuzan, Nanzan e Hokuzan (montanha central, do sul e do norte) .

Relações com a China:


Na china, em 1368, começa a dinastia Ming, fundada pelo imperador Hong-wú. Quatro anos após, em 1372, as ilhas começam uma relação tributária com a China. Isso acontece através do rei de Chūzan, Satto. Em 1392, na cidade de Kumemura, em Naha, estabelecia-se uma colônia de 36 famílias chinesas formada por professores, artistas, políticos. Neste contexto entraram as artes marciais chinesas, entre outros elementos. Pouco tempo depois, em 1404, a China considera as ilhas como um feudo próprio, logo, começa a enviar diplomatas para saber quem eram as pessoas que estavam ascendendo ao trono


Em 1407 o Aji Hashi inicia o movimento de unificação territorial das ilhas, derrotando o rei de Chuzan. Cerca de 10 anos depois o rei de Hokuzan cai. Em 1421, Hashi comunica a China a unificação dos reinos. Embora a informação fosse falsa, Nanzan ainda seguia independente, a China concede a o reconhece como Rei e lhe concede o título de sho, que designa sua dinastia e deu um nome ao pais, Liúquiu Guó, em japonês Ryūkyū ōkoku – “Reino das Ilhas Léquias”. Apesar deste processo ter iniciado em 1422 foi em 1429 que Hashi se tornou rei do reino unificado de Ryūkyū, nominalmente vassalo da dinastia Ming na China.

Proibição das Armas:

Durante o reinado do terceiro rei da Dinastia Sho, Sho Shin, unificaram-se também politicamente os territórios de Ryukyu. Assim, os senhores feudais tiveram que residir em Shuri. Criou-se também um complexo sistema de castas que tinha como base na realeza, os Aji, as famílias de guerreiros e o povo. Para distinguir as classes, se usava grampos de cabelo e faixas na cabeça com cores distintas.

É desta época a primeira proibição de armas. Nesse sentido, o rei, visando enfraquecer os Aji, proibiu o uso de armas, confiscou e armazenou todas as armas sob seu controle no castelo de Shuri. A responsabilidade da guarda real, segurança distrital e aplicações de leis ficou a cargo da recém formada classe dos Pechin. Para a o cumprimento das tarefas de segurança os pechin usavam cassetetes de ferro (Jutte), bastões (bō/kon) e bengalas (jo), empregando técnicas de contenção comparadas as disciplinas de defesa-pessoal chinesas. Em 1599 constitui-se uma embaixada chinesa em Ryūkyū, na cidade de Naha. Autoridades chinesas foram para lá, entre elas o general Gong-xiang-jun (kushanku), que passou a ensinar Quan-fa nas ilhas.

Os Satsuma:

Em 1609, os samurai de Satsuma invadiram Ryūkyū. Satsuma era uma província ao sul do Japão. A invasão foi uma operação anfíbia relâmpago. As ilhas foram conquistadas uma a uma. O exército de Satsuma era mais organizado, experiente e contava com armamento mais forte, incluindo armas de fogo. Não sobrou outra opção ao rei da época, Sho Nei, a não ser se render. Após a invasão eles impuseram 15 leis, entre as quais a segunda era a proibição de armas. Os Satsuma também impuseram impostos e fecharam as fronteiras. O rei Sho Nei, no intuito de manter o fluxo comercial com a China, manteve a invasão em “segredo”, desta forma Ryūkyū se torna vassalo da China e do Japão, passando a pagar tributação para ambos.

Durante os próximos 250 anos o feudo Satsuma imporia severas restrições e elevados impostos, ao mesmo tempo em que permitiria Ryūkyū, com clara intenção de lucrar com comércio, manter sua relação tributaria com a China.

Em 1644, termina na China a dinastia Ming e inicia a dinastia Qing. Logo, em Ryukyu o rei da época tornou-se vassalo do império Qing. Neste período as artes marciais chinesas começam a influenciar muitos mestres de Ryukyu. Em 1756 Gong-xian-jun (Kushanku), chega a ilha. Kushanku era um militar especialista no que foi chamado na época de kumiai-jutsu. Ele se instalou em Kumemura até 1762.

Influência Samurai:

O ano de 1859 marcou, sobretudo, a chegada de várias famílias de samurai para tentar a vida junto aos camponeses. Dessa forma o arquipélago estava influenciado diretamente pela classe japonesa dos samurai e sua arte de combate que eram transmitidas de família para família

Clã Satsuma entre (1868-1869)


Os Satsuma praticavam um estilo de kenjutsu chamado Jingen-Ryu. Apesar de os ensinamentos deste estilo serem proibidos para forasteiros, há referência que a arte da espada foi eventualmente ensinada. Provavelmente para os de classe mais elevada, a alguns habitantes das ilhas. Dessa forma influenciando a evolução dos métodos de luta originais de Okinawa.

Por fim, em 1871, as operações comerciais com a China foram interrompidas. Os assuntos de relações exteriores de Ryūkyū passaram para administração do governo central japonês. A dominação dos Satsuma sobre o arquipélago encerrava-se.

Okinawa!

Um ano depois, em 1872, Ryukyu foi impelido a fazer parte do Japão e logo em seguida aboliu o reino de Ryukyu. Quem reinava na época, Sho Tai, perdeu o titulo de rei e passou a ser governador. Este processo durou até 1879, quando o Japão dissolveu de vez a monarquia no e anexou o arquipélago. O Japão substitui o clã Feudal de Ryukyu pela Okinawa-ken (prefeitura de Okinawa).

Portanto, a partir deste momento todos os vestígios sociais, econômicos e culturais de um reino independente começaram a ser apagados. Isso foi um processo educacional que impunha a cultura Japonesa. Como o Japão já tinha seu sistema de armas próprio, a cultura de arte marcial armada e de mãos vazias também sofre com essa imposição. Se fazendo necessária, como visto no capítulo de historia do Kobudō, o resgate dessas técnicas e cultura de luta.

Todavia, só em 1997 a prefeitura de Okinawa reconheceu o Karate-do e Kobudo como um “bem cultural intangível” da ilha. Desde então se passou a homenagear alguns dos mestres proeminentes como detentores e representantes deste bem. Dessa forma, foram entregues homenagens em 1997, 2000, 2013 e 2020.

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Referências:

  • – Como as ilhas Ryukyu e Okinawa foram conquistadas pelo Japão | A conquista de Okinawa (Parte 1 de 3). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=EowUqyHYHj8
  • – O plano para conquistar o Reino de Ryukyu | A conquista de Okinawa (Parte 2 de 3) Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=EowUqyHYHj8
  • – A invasão japonesa do Reino Ryukyu | A conquista de Okinawa (Parte 3 de 3) Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=EowUqyHYHj8
  • – ANDRETTA, Denis Augusto Cordeiro. Karatedo: uma revisão bibliográfica sobre o tema nas publicações atuais. UFRGS, 2018.
  • – MCCARTHY, Patrick. The Bible of Karate – Bubishi. Tuttle Publishing – 5ª edição, 2007
  • – SANCHES, Eros José, Ikken Hissatsu: As origens do Karate-dō . União da Vitéria, PR: Kaygangue Ltda, 2021