História do Kobudo, o primo irmão do Karate:
Primeiramente, é de conhecimento que o Karate-do (caminho das mãos vazias) como o próprio nome diz é uma disciplina de luta desarmada, fazendo uso apenas de pés e mãos. No entanto em Okinawa, a arte das armas, conhecida atualmente por Kobudō, ensinava-se junto ao Te/Tōde.

O Kobudō pode ser dividido em duas vertentes: Nihon Kobudō e Ryūkyū Kobudō. A primeira tem origem no Japão Continental e está representado pelas disciplinas marciais e armas praticadas pelos samurais. Na atualidade existem duas organizações que preservam rigorosamente as origens e cultura do Kobudō Japonês: a Nihon Kobudō Shinkokai e a Nihon Kobudō Kyokai.

Já a Ryūkyū Kobudō tem origem no arquipélago de Ryūkyū, atualmente conhecido como Okinawa. Antes de receber o nome Kobudō, a arte das armas era uma disciplina complementar ao Te/Tōde. Cada arma era uma própria disciplina, por exemplo Bō jutsu, Tonfa Jutsu etc. A prática com armas nesta época se chamada kobuJutsu.

As armas:

É difícil estabelecer a origem exata das armas do Kobudō. Algumas são instrumentos agrícolas adaptadas e tiveram técnicas desenvolvidas para combate. No entanto, o desenvolvimento destas armas também aparece nas artes marciais Chinesas, provando existir uma convergência nesse desenvolvimento . Sendo assim, podemos também considerar a possibilidade de armas terem sido adaptadas a instrumentos agrícolas ao invés de o contrário. Segundo Bishop,

“Antes que uma decisão final fosse tomada sobre quais categorias usar, diversos
Conceitos foram cuidadosamente examinados. Estes incluíam a mais óbvia e popular designação dupla de “armas com base na agricultura” em oposição a “armas não agrícolas”, e “armas baseadas em Te” em contraste a “Armas Kobudō baseadas na China.” No entanto, embōra esses agrupamentos gerais são frequentemente utilizados verbalmente por muitos professores de Kobudō e Te em Okinawa, eles não são claros nem abrangentes o suficiente para serem usados neste livro. A este respeito, não há diferença real distinta entre o que é ou não uma arma baseada na agricultura – a definição de tal sendo puramente subjetiva “
(BISHOP, 1996, p. 12).

Ao contrário do que a maioria pensa, as artes marciais eram práticas da nobreza. Os camponeses que tiveram contato com estas disciplinas o fizeram através de seus senhores para que auxiliem na defesa de propriedades. Portanto, o desenvolvimento das técnicas com armas acontece pela classe militares nobres (Pechin). Segundo McCarthy (2007,p 43) a ideia de que os as artes de combate de Ryūkyū foram, desenvolvidas, por camponeses para se libertar da opressão de seus soberanos não é digna de consideração séria e afirma que o estudo da história da ilhas fornece uma explicação mais plausível.

Os mestres:

Dos mestres conhecidos sabe-se que Kanryu Higaonna sabia o manejo da lança, espada longa e curta, bō e sai. Porém, de seus alunos apenas há evidencias Juhatsu Kyoda aprendeu armas. É bom lembrar que Higaouna teve sua formação marcial diretamente na china com mestre Ryu Ryu Ko, por isso vemos a presença do estudo de espada e lança, armamento característico do Kenpo Chinês. Kosaku Matsumura, que ensinava tomari-te, dominava o Jingen-ryu (kenjutsu do Kobudo Japonês) e era hábil com bō e sai. Seisho Aragaki foi expert em bō e sai.

Segundo Sanchez, na transição do século XIX e XX viveram Sanda Kanagusuku (1841 – 1920) e Sanda Chinen (1846 – 1928), que foram muito importantes para o Ryūkyū Kobudō. Kanagusuku foi aluno do Pechin Matsu Higa II e de Sokon Matsumura foi notável com as armas, dominando vinte e uma delas. Com toda essa expertise ele criou seu sistema, Ufuchiku Kobujutsu.

Chinen treinou com seu tio, também Pechin, Chinen Sanjin Andaya (1797 – 1881) e foi proficiente em diversas disciplinas de Ryūkyū Kobudō. Entre seus principais alunos está Moden Yabiku e seu neto Masami Chinen, que nomeia seus conceitos técnicos de Yamani-ryu, uma referência a velha vila Samukawa, “em frente a montanha” (Yamani). (2021, p421).

O primeiro movimento para aceitação Japonesa da arte marcial de Okinawa se deu a partir de 1922. Com a entrada no Japão Continental a prática com as armas de Okinawa se dissolveu. Isso acontece por que culturalmente o Japão já tinha seu sistema de armas (Nihon Kobudō) preservado e sistematizado pela Dai Nippon Bōtoku kai, logo o Ryūkyū Kobudō, que tinha influência da cultura chinesa, não despertaria interesse desta instituição patriótica. É neste contexto em que os chamados “mestres precursores modernos” aparecem e contribuem para o resgate técnico e cultural do Ryūkyū Kobudō.

MODEN YABICO:

Yabico iniciou sus prática de Tōde com Anko Itosu e teve o aprendizado com armas de Okinawa com Sanda Kanagusuku e Sanda Chinen, dois importantes mestres já citados neste trabalho. Não é possível precisar a data em que Yabico entra no Japão Continental, tudo indica que foi em torno de 1935. Yabico funda a Ryūkyū Bujutsu Kenkyu-kay – Associação para pesquisa da Arte Marcial de Ryūkyū, Se tornando assim o primeiro mestre de Okinawa a apresentar o Kobudō como um sistema no Japão Continental. Principal Aluno de Moden foi Shinken Taira.

SHINKO MATAYOSHI:

Shinko foi introduzindo ao treino com armas em sua própria família, seu pai, Shinchin, o ensinou a arte do bō e um tio, Higa, habilitou-se com bō, sai, eku e kama. Além disso, Aprendeu nunchaku e tonfa com com Ire Moshigawa. Matayoshi também treinou Tōde (Hakutsru Kenpo ) com o chinês Go kenki assim como se aperfeiçoou na China com o mestre Koki, patriarca da família de Go Kenki. Através de Koki ele conheceu Roshi Kingai e treinou com ele o sistema Kingai-ryu, aonde aperfeiçoou o treino com armas. Por fim, em 1935 se fixou permanentemente em Okinawa e passou a desenvolver seu sistema de Kobudō (Matayoshi Kobudō) e iniciando seu filho Shinpo (1922 – 1997) que da continuidade ao seu trabalho.

SHINKEN TAIRA:

Em 1922 Taira vai para Tóquio. No continente japonês ele conhece Ginchin Funakoshi, que ensinava Tōde nos dormitórios reservados aos uchinachus, passou então a práticar com ele. Funakoshi tinha conhecimento de bastão e sai. Em 1928 Funakoshi encaminha Taira para treinar com Moden Yabiko. Ele matem o treino com ambos os mestres até 1933, quando abre seu próprio Dojo na prefeitura de Gunma.

Por volta de 1934 a 1940 Taira cria vínculo com Kenwa Mabuni e aperfeiçoa o treinamento de sai e bō. Ainda em 1940, Taira retorna a Okinawa para dar seguimento ao seu estudo e aperfeiçoamento do armamento. Passou a lecionar tanto em Okinawa quanto no Japão Continental. Com o avançar da segunda guerra, Taira entra para servir. Fica afastado das artes marciais até 1948, quando retoma as aulas de karate e Kobudō. Em 1955 estabelece em Naha o Ryūkyū Kobudō Hozon Kenkyū-kai (Associação para a Preservação e Pesquisa do Ryūkyū Kobudō). A partir de 1958 ele retoma a lecionar no Continente.

Shinken Taira tornou-se o expoente máximo na história do Ryūkyū Kobudō, ele foi o primeiro mestre a padronizar os kata e o ensino básico de Kobudō. Até seu falecimento, aperfeiçoou e preservou mais de 40 kata que se achavam esquecidos e corriam o risco de se perderem. (SANCHEZ, 2021, 428).

Saiba mais sobre kobudo.

Referências:
– MCCARTHY, Patrick. The Bible of Karate – Bubishi. Tuttle Publishing – 5ª edição, 2007
– SANCHES, Eros José, Ikken Hissatsu: As origens do Karate-dō . União da Vitéria, PR: Kaygangue Ltda, 2021
-BISHOP, Mark. Zen Kobudô: ‘Mysteries’; History of Okinawan Weapons Te & Karate. Tuttle Publishing, 1996.