Este não é um texto com muitas informações técnicas e históricas. Aqui vou versar sobre meu entendimento e experiências sobre o caminho da arte marcial. Acredito que todos que escolhem passar por esta estrada em algum momento passam por esses questionamentos. Sendo assim, espero que este breve texto seja alguma utilidade, servindo de atalho ou estopim para novos insights.

Eu comecei na arte marcial ainda na escola. Em 1994 introduziram Taekwondo como extra classe aonde eu estudava. Nesta época minha mãe tinha escutado de um médico que seria muito bom eu praticar uma arte marcial. Ela diz até hoje que tinha medo que a gente ficasse agressivo ou coisas assim. Sinceramente, eu acho que essa foi o melhor conselho que um médico deu pra minha mãe a meu respeito. Não sei que doutor ou doutora foi, mas fica aqui meu agradecimento.

Durante minha época nessa escola todo mundo da minha turminha acabava indo experimentar junto as novas modalidades, logo, virava sempre uma panelinha. Foi nessa época que me dei conta da minha dificuldade física em relação aos colegas, sempre acima do peso e com mais dificuldades motoras. São também desse período duas das lições que considero mais importante na arte marcial.

Primeiro: a evolução de cada um segue um ritmo diferente. Devemos respeitar isso e trabalhar para transpor essa barreira. Segundo: o esforço e a continuidade valem mais do que o talento. Resumindo, com esforço, dedicação e respeito chegamos lá. Veja bem, não importa qual arte seguimos, esse é o segredo, não se iluda achando que vão existir soluções mágicas e poderes supremos.

Ainda no início do meu caminho na luta, percebi que eu era o único realmente interessado, logo ficou só eu na turma e logo nem eu fiquei. Em 1997 com a chegada da adolescência e o fim do extraclasse eu larguei a arte marcial. Foi só em 2007, dez anos depois, que retomei o taekwondo. Em um momento de vida completamente diferente e com uma idade mais avançada, voltei a perceber minhas limitações, ainda mais me comparando com meus colegas de 16 anos.

O que me leva à terceira lição: a comparação e a competitividade podem ser benéficas para nos impulsionar a melhorar, desde que não nos esqueçamos das duas primeiras lições (entender seus limites e dar continuidade).

Eu tinha uma série de dificuldades no taekwondo, mas eu sempre gostei muito. O que eu mais gostava eram as formas (poomsae). O ruim era que eu tinha a impressão de ser o único que gostava disso. Foi então que, durante meu processo de formação de 1º dan no taekwondo, tive contato com karatedo e me impressionei com o treinamento dos kata (formas no karate) e como era levado a sério e cobrado em aula. Obviamente não demorou para eu migrar para o karate.

E isso me leva à quarta lição: procurar clareza do que se quer na arte e não ter medo de mudar se assim for preciso. Pensando nesta lição, eu tento entender o que meus alunos e amigos procuram na arte marcial. Isso me ajuda a compreender a realidade de cada um e a não me frustrar botando expectativas demais. A verdade é que, como professores, nós queremos que todos sejam dedicados iguais a nós e isso é impossível, todos somos diferentes.

Bom, a quinta lição é que o caminho das artes marciais é um caminho solitário. Por mais que a gente conheça pessoas, conte com mestres, amigos e profissionais, sempre vai depender apenas de nós mesmos. Às vezes, assim como em outros setores da vida, é preciso ter coragem de fechar algumas portas, mudar de atitude e seguir outros caminhos. Acho que é por isso que eu gosto tanto de Kata: é o momento que eu tenho só comigo, que depende apenas de mim, do meu respeito e do conhecimento de minhas potencialidades e limitações.

Fazer esse resgate e transpor em palavras não foi um exercício fácil. Essas são reflexões que venho construindo durante toda a minha vida. Espero poder ser útil para você, caro leitor que chegou até aqui.

Pra encerrar, lembre-se: O treino nunca para, seja ele qual for.